Levi Nauter
Meu amor,
Hoje tivemos (eu e
a mamãe) uma grata surpresa. Sabíamos que esse dia chegaria, mas ele foi como
que entregue a ti, sem pressão – para que chegasse sem pressa. Dito de outra
forma a gente sabia que os teus desenhos iriam evoluir de riscos bem coloridos
e ininteligíveis até o que aconteceu hoje.
Neste dia,
30-06-2012, fomos a uma pizzaria com nossos queridos vizinhos, pais do
Arthurzinho. E o Arthur, claro, teu companheiro de brincadeiras infantis. Para
que nós, os quatro adultos, pudéssemos comer e papear com um pouco de paz, a
Adri, mãe do Tutui, teve a feliz ideia de levar folhas impressas do
homem-aranha e de personagens do Toy
Story, além de canetinhas e lápis de cores. Que acerto! Tu e o Arthurzinho
brincaram por pelo menos uma hora e meia. Depois disso a coisa ficou um pouco
feia: tu não parava quieta e começaste a andar por todas as mesas que haviam
por perto (pulando, correndo, chamando ‘Tutui’ e até apagando a luz do
ambiente). Ufa, que sufoco!
Numa das folhas tu
desenhaste, pela primeira vez nesses teus três anos de história, um esboço da
nossa família. E chamaste a atenção da mãe sobre isso:
- ó, mãe, tu, o
papai e eu.
Em seguida
começaste a fazer mais um desenho e não nomeaste. A pizzaria, para mim, naquela
hora, tomou ares sagrados, de consagração, de celebração da família. Mais uma
vez o mesmo filme me passou. Você, outrora um serzinho tão picorrucho em quem a
gente tinha até medo de dar banho, agora ali perto de nós reproduzindo nosso
jeito de ser.
Foi um dia para a
história. Para a tua história. Nossa identidade parece, enfim, estar começando
a fazer ranhuras em ti.
Nós te amamos. Cada
vez mais.
NOTA
A ilustração é o teu esboço. Filha, que difícil foi trazer o desenho para escanear. "É meu tabalinho, pai. Dá, é meu". Mesmo dizendo que iria fazer dele uma foto, perdi e tive que, forçosamente, tirar das tuas mãozinhas e colocar na minha pasta.Como és a autora, definiste o seguinte: da direita para a esquerda, a mamãe, o papai, tu e alguém que tu não definiste.