segunda-feira, 27 de setembro de 2010

mate amargo ou chimarrão

Levi Nauter






Maria Flor:
Ontem fomos visitar a vó Jussara e o vô Elio, algo que fazemos semanalmente. Como estávamos (eu, tu e a mamãe) em Canoas, e a BR que nos leva pra casa estava totalmente ‘trancada’, resolvemos ficar nos avós ‘matando tempo’. Na casa dos avós a gente não precisa de formalismos, basta chegar.
Chegaste sorridente conosco. Teu cabelo encaracolado dava um charminho de filha. Em seguida o vô, que estava deitado, levantou para brincar contigo. Eles não resistem ao teu charme. Agora mais ainda pois vem mesclado de frases incompreensíveis, mas lindas. O bico que fazes com os lábios e o balanço da cabeça ao dizeres “n-ã-o” é algo...
A casa da vó é o outro lugar das tuas bagunças. Bailarinas de gesso, bonecos de biscuit, fitas VHS, vasinhos com flores por todos os lados, cadeiras, material de limpeza, paneleiro. Ufa! Nada escapa das tuas mãos bagunceiras. E os avós pateticamente sorriem, acham tudo lindo. Quando quebras alguma coisa, “ela é criança” – defendem.
Mas hoje foste além e provaste ser uma gaúcha e tanto. A vó te deu chimarrão. Calma! A água estava morna, no ponto para os teus 84cm de altura. O mais legal foi que tomaste até a ‘bomba roncar’ na cuia. A vovó chorava de tanto rir do teu jeitinho: a cada, digamos, gole, tu fazias um esticado “aaaahhhhhh” – como se fosse um sorvete bem gelado.
Aqui em casa não tomamos tanto chimarrão assim, mas é bom saber que teremos mais uma companheirinha nesses poucos momentos de gauchismo.
Porém, vestir-te de prenda? Só quando tiveres vontade. Se depender de nós, ta bom assim.




NOTA
A  foto é dos avós, no dia do teu aniversário, 24-03-10.
 

terça-feira, 21 de setembro de 2010

dia de saudade


Levi Nauter


Filha amada, meu presente de Deus:

Ontem, 20-9-10, fomos até a JOCUM com alguns amigos. Eu, a mamãe e tu. Como sempre, estavas maravilhosa, lindinha e absolutamente comportada (calma, brincaste o tempo todo). Já quase na hora de voltarmos para casa, eu e você fomos correr pelo gramado. As tuas perninhas tentando andar mais rápido é de uma ternura que eu nunca mais vou esquecer. Quando olhavas para trás, se estatelavas na grama com uma risada de dar inveja. Pra variar, eu te pegava, apertava e te enchia de beijinhos.
Na volta para casa (bem como na ida) ouvíamos o CD Volta ao mundo, dos palhaços Patati e Patatá, adquiridos na escolhinha onde ficas durante o dia. É indescritível a beleza de ver-te balançando a cabeça e mexendo as mãozinhas no ritmo das canções. E mais: arriscando a cantoria.
Hoje, num dia chuvoso e ventoso, cá estou na escola (de onde escrevo) tentando sufocar o meu choro. É um choro de saudade. Saudade da filha que eu amo tanto. Ah, como tu és especial! Como tu és linda! Eu me torno bastante repetitivo, eu sei. Mas quem mandou você ser tudo isso e muito mais? Então agüente.
Eu te amo.



sexta-feira, 17 de setembro de 2010

aperfeiçoamento


Levi Nauter



Oi, amor de filha!

Hoje adquiri mais um livro sobre pai. É a minha busca tranquila por aprimorar cada vez mais essa relação de pai versus filha. Sempre idealizei esse momento de ser teu pai. Para isso, imitei – meio sem querer – o que vi de bom em outros pais, a começar pelo meu, o vovô Josué (agora é verdade, ele é avô). Contudo, há um outro pai, o papai do céu, que é sempre difícil imitar. Ele tem muitas formas, muitos jeitos de ver as coisas. Minha limitação fica evidente. Por isso a busca tem de ser tranquila, serena, sem pressa.
Amor de pai, do Max Lucado, está longe de ser a melhor aquisição sobre o tema. Não o comprei por ser a palavra final. Ao contrário, apenas sabia que alguma história seria legal. O Max é um escritor que me incomoda. Sua escrita é previsível sob muitos aspectos e silenciosa em temas cruciais da humanidade. Não sou fã do Max.
Mas ele é pai de meninas. Eu sou pai de uma linda menina. Eu tenho 36 anos; ele, 55. Ele deve ter alguma experiência para contar, imaginei.
Vale a pena ler o livro, de preferência sem ter de comprá-lo. Dos cinco capítulos, os três primeiros dão o recado. Os outros dois mais enchem páginas e justificam os dez reais do que dizem algo relevante até então não sabido.



No caminho do trabalho para casa, os pais têm de tomar a decisão de tirar o uniforme de trabalho e colocar o uniforme de pai. É a decisão de administrar seu tempo e cuidadosamente reconciliar o trabalho com a prioridade da família. Ser um bom pai significa tomar decisões difíceis...


NOTA
O trecho é parte do capítulo I – “um bom pai toma decisões piedosas”, p. 13 – de Amor de pai, publicado pela Thomas Nelson Brasil, em 2010.



quinta-feira, 9 de setembro de 2010

musica para a Flor





Querida filha:

Resolvi imitar a tia Ane. Ela postou uma poesia do músico Alex Campos1 para tua priminha que está por chegar. Achei linda e delicada a iniciativa. Aí lembrei o dia em que eu e a mamãe choramos assistindo à homenagem que Jesus Adrian Romero2 fez para as suas filhas. Resolvi colocá-lo aqui. Espero que você goste também dessa canção. Na verdade eu gostaria de ter a capacidade de compor coisas boas assim. Enquanto esse dia não chega, vamos ouvindo o que há de bom pelo mundo.



Magicas Princesas – de Jesús Adrián Romero



Tengo dos excusas en mi mente,
Para recordar mi vida ya mi casa regresar,
Son un par de magicas princesas,
Con pijamas y con trenzas que juegan a ser mama.

Ya se han dado cuenta que soy debil,
Y con solo una sonrisa pueden todo conseguir,
De mi corazon se han vuelto dueñas
Y me alegran la existencia con solo en ellas penzar.

Entre gimnasia y la tarea,
Van creciendo muy de prisa.
Hay hay hay.
Las quisiera detener,
Pero un dia se iran de casa
Y entre sus cosas llevaran un pedazo de mi vida
Que jamas regresara,
Mientras tanto quiero darles tantas cosas,
Quiero darles tanto amor tanta atencion,
Y enseñarles cada dia su importancia y su valor,
Quiero cuidarles el corazon.

Son como un jardin en primavera,
Que se viste cada dia de belleza y esplendor,
Son como palomas mensajeras
Que el señor mando del cielo
Para hablarme de su amor.


Te amo, filha. 

 

NOTAS 

1Texto “Mil Palabritas”, parte do último CD do Alex Campos - Lenguaje De Amor.
2Parte do DVD Ayer Te Vi: Fue Mas Claro Que La Luna (de 2007). Aliás, nesse DVD e CD o Alex Campos faz uma bela participação dando um show de técnica vocal.

domingo, 5 de setembro de 2010

elogio diferente

Levi Nauter




Nas escolas em que trabalho assim como na Secretaria de Educação do município, todos perguntam por ti. Mal chego nos lugares e lá vêm eles: ‘e a Maria Flor, tá bem?’. Graças a Deus, estás sempre bem.
Viste como estás famosa? Mas, espere aí, famosa no meu círculo de colegas, alguns amigos e entre os parentes. Basta! O mundo das celebridades me dá enjoo, espero que em ti também.
Bem, meu assunto é outro.
Semana passada dei carona a uma colega professora. Essa é de fibra, há trinta e dois anos é docente e o cansaço começa a aparecer. Eu falava do meu cansaço e de forças que preciso ter para brincar com a minha filha. Falei tanto em ti, filha, que nem me dei conta que estávamos chegando ao lugar onde essa colega desceria. Então ela quis saber teu nome. “Maria Flor”, respondi. 

- que nome mais lindo! É de uma sensibilidade enorme, uma singeleza ímpar.

Nunca ouvira um elogio assim. Fui rindo, feliz, seguir mais um turno de trabalho, louco para que chegasse a hora de chegar em casa e te contar.
Eu te amo, filha.



NOTA
A foto ilustrativa foi tirada por volta de dezembro de 2009. 


 

quebra de discrições

Levi Nauter



Aqui em casa, filha, a gente sempre procurou manter discrição em tudo. Desde quando morávamos em outro lugar, víamos vizinhos gritando, brigando, xingando-se. Alguns dos nossos familiares ainda possuem essa 'tradição'. Sempre pensamos que conosco, na nossa família, haveria de ser diferente. E temos conseguido. Afinal, ninguém precisa saber dos nossos problemas; ninguém tem o direito de, ao longe, assistir-nos de camarote sem se importar com as nossas humanidades.
A tal discussão também se estende àquilo que tornamos público. A quem interessa nossas pequenas realizações? O que se acrescenta na vida dos que passam a saber o tamanho da nossa casa? O que muda na vida de quem propagandeia ter adquirido um note ou um netbook, um carro, um iPod ou tantas outras bugigangas de utilidade relativa? As nossas conquistas interessam sobremaneira a nós três, eu, mamãe e você. A mais ninguém. Talvez uma pequena concessão se faria aos demais familiares, e ainda a umas poucas amizades. Isso para mim é discrição, em suma.
Poderíamos, ainda, resumir a discrição de que falo como sendo ‘chegar, fazer o que precisa ser feito e sair sem ser notado’.
A tua chegada mudou um pouco isso em nós. É bem legal notar o quanto uma criança quebra paradigmas, algumas crenças, algumas manias.  A primeira quebra de discrição é esse blog. Aqui conto praticamente tudo que vem acontecendo desde que nasceste (e estou preparando um conjunto de textos escritos antes da tua chegada). Outra coisa que mudou foi ter de cuidar-te por vezes às pressas. Uma vez tivemos de trocas tuas fraldas num fraldário todo de vidro. Até aí tudo bem, mas a mamães sozinha não dava conta de tanto cocô; tive que ajudar: um erguia tuas perninhas, o outro pegava lenços umedecidos (vários) e ia limpando. Enquanto isso, choravas inconsolável. Várias pessoas passavam por aquele centro comercial, umas riam e admiravam a tua beleza, enquanto outros provavelmente riam do desajeitado pai limpando cocô.
brincando com um amiguinho feito na hora
Quando estavas descobrindo a voz foi outro momento. Às vezes íamos a uma consulta, todos estavam quietos com seus pais. De repente soltavas um grito e lá ia o pai ou mãe caminhar e como que a te dizer no ouvido: fala mais baixinho, filha. Tudo em vão.
querendo levar todas as bolsas
Mas agora a coisa se alastrou. Afinal, já caminhas, já falas umas poucas palavras e, sobretudo, já sabes subir em cadeiras e sofás com a maior facilidade. Já queres brincar de se esconder e de pega-pega. Qualquer loja torna-se pra ti um centro de lazer. As fotos comprovam que ficas a coisa mais linda do mundo. Mas dá um trabalho...
Assim é que perdemos um pouco da vergonha. Dizemos a nós mesmos: ela é uma criança e precisa justamente desse espaço para ser a criança que é.
E que criança linda.
Nós te amamos.
 

querendo se esconder da mamãe