quarta-feira, 30 de março de 2011

[dois anos (2)]


Levi Nauter



Maria, Maria
É um dom,
uma certa magia

Milton Nascimento[1]





Meu amor,

No teu primeiro aninho resolvemos fazer uma festinha em casa (há fotos desse dia). Ela estava bem legal, apesar de não sermos muito chegados em festerê. Já neste ano, a gente optou por fazer algo que tivesse mais a ver contigo. Assim, ontem – 28-03-11 – a Escola de Educação Infantil Smilinguido foi toda Maria Flor. Mesmo com os contratempos desse dia, no fim das contas tudo deu certo, às vezes é assim: quanto mais nos programamos mais errado dá. Eu e a mamãe (e a mamãe tem papel fundamental nessa festinha) tentamos fazer o melhor possível.
Escolhemos a escolinha porque lá estão as pessoas que realmente convivem contigo diariamente – além de nós, claro. O espaço nos pareceu adequado, as mesinhas, as cadeirinhas, todas em tamanho adequado. Ademais, as profes estariam por perto para nos ajudar. Sobretudo, porém, a festa seria para crianças mesmo.
Filha, tu estavas linda. Era só sorrisos. Como foi bom ver-te dançando ao som dos inconfundíveis Patati e Patatá. Todas as crianças estavam faceiras e dançantes; pularam tanto...
Eu fiquei o tempo todo te admirando. Como Deus havia sido bom comigo dando-me uma filha tão linda, tão especial, tão alegre, tão propositiva, firme! Não consigo imaginar a vida sem você. Nesses momentos as lágrimas queriam vir e as trancava. Como que num filme, relembrei toda a trajetória da minha vida até a tua chegada. Tu és o meu marco, filha. Há um Levi antes e outro depois de ti. O de agora é mais sensível, percebe mais a presença de crianças. Também é mais chorão, além de mais velho. A mamãe costuma dizer que o nosso amor é um “amor que dói”. Acho que a palavra carinho e cuidado pode definir melhor o que sentimos por ti. Penso que uma das provas está neste espaço virtual, no blog.
Voltemos à festa. Lá ficamos por aproximadamente uma hora, uma hora e meia. Depois, encaixotamos as coisas e fomos pra casa. Chegara o momento de te curtirmos mais um pouquinho antes de outro dia de trabalho. Mamãe e eu começamos a conversar sobre os imprevistos do dia. Conversávamos e gesticulávamos até que nos interrompeste chamando-nos, gritando os nossos nomes para ter a certeza de que seria ouvida. Quando dissemos ‘oi, filha’ imitas-te tão bem a gente (com gestos e tudo) que começamos a rir.
Outra vez relembramos que o maior presente que Deus poderia nos dar já foi dado: você.

Te amamos.
 










NOTA
Texto escrito ao som de Lighthouse Family - Greatest Hits.
O cartão foi uma linda ideia da mamãe.
A foto foi tirada por mim no momento em que recebias um 'feliz aniversário' de um coleguinha.


[1] Maria, Maria é uma clássica poesia do Milton Nascimento composta e musicada junto com Fernando Brant. É também uma das inspirações na alegria de termos escolhido esse nome para o nosso rebento.




sexta-feira, 25 de março de 2011

[poesia para a flor 3]

Levi Nauter










...a densidade do amor, seu vigor
E a outra face do amor vem a flor
Na flor que nasce do amor...















NOTAS
O trecho poético é parte da música Samba de amor e ódio, uma composição de Pedro Luis e Carlos Rennó, belamente cantada pela bela Roberta Sá no CD Belo e estranho dia pra se ter alegria.
A foto foi tirada por mim (no celular) para mostrar que até a espera por um médico mudou depois da tua chegada. Mudou para melhor.


quinta-feira, 24 de março de 2011

[dois anos]

Levi Nauter



Inventei um jeito
De correr veloz,
De correr voraz,
Tão rápido, tão rápido,
Que às vezes me ultrapasso
E me deixo para trás.

Sérgio Capparelli



Filha amada,

Hoje é uma data muito especial para mim (e tenho certeza que para a mamãe também): estás completando dois aninhos. Sabe, amor, acho que sempre vou dizer que o dia 24 de março é especial. Afinal, foi nele que recebi meu maior presente, meu maior feito – ter você. Eu não tenho dúvidas ao dizer que tu és para mim a pessoa mais importante no mundo. Esse laço sagrado que tenho contigo jamais se desfará. E mais, foi algo com que sempre sonhei. E também isso você vai ouvir muito, além dos “linda” e “eu te amo”.
Ontem, na véspera do teu aniver, fiquei pensando sobre esse tempo que estamos juntos, sobre cada momento que vivi em teu desenvolvimento, sobre a minha paternidade.
É surpreendente o quanto tu estás à frente na inteligência, nas pequenas travessuras de menina boa[1]. No aniversário passado pouco falavas e nem sequer caminhavas. Agora, conversas bastante e anda por tudo. Outro dia deixamos a porta dos fundos aberta e, quando nos damos conta, tu estavas lá no gramado indo em direção às flores. Quando a porta da frente está aberta, tu exortas-nos para que molhemos a “fossinha” (na tua linguagem significa molhar as flores); conversas com as crianças da vizinha e ainda nos convida para “passá” (passear). Contigo, tenho passados momentos inesquecíveis.
Outra coisa importante no teu desenvolvimento foi que ele me fez revisitar a minha infância. Tem sido maravilhoso notar coisas contigo que sozinho passariam  despercebidas. Quando estamos passeando, de carro ou a pé, por exemplo, tu olhas para o céu e de repente dizes “Alá pataín”; então relembro que onde moramos há bastante passarinho. Noto com alegria que tu mexes nalgum tijolo, na areia, no gramado, nas árvores, nas pedrinhas; sobes na cadeira no sofá, no armário, tudo a fim de descobrir novos olhares, novas texturas. E até pedra e areia já tentaste comer, provavelmente buscando novos sabores. Enquanto esses merecem nossa atenção como pais, outros são lindos de ouvir a petição: ‘eitinho’ para o leite fermentado e ‘guti’ para o iogurte que adoras; ‘polate’ para o chocolate e para o Nescau que não pode faltar. Não daria pra esquecer a tua careta pedindo ‘efí’ na hora do refri. Teu jeitinho é tão lindinho que às vezes a nossa função de pais se complica, ficamos com o coração partido por ter de dizer alguns ‘nãos’. Pensar no teu futuro, porém, renova nossas forças.
Por fim pensei na minha paternidade. Como sempre foi um desejo, agora fico me perguntando como venho desempenhando o ser pai. Provavelmente não sou nem serei o melhor pai do mundo, porque essa tarefa exige funções que, adiante, tu não vais gostar. No entanto, registro que tenho me esforçado para dar o melhor de mim como pai e como um parceiro na caminhada da vida. Será assim que, por um lado, quero ser uma espécie de escada para que tu alce teus vôos e, por outro, que tenhas a segurança, a tranqüilidade e a proteção paterna do lar. Quero que aqui em casa tu sempre, sempre, encontres um lugar seguro, um lugar para seres quem és sem medo da não aceitação. Ser pai, para mim, sempre significou um homem com mais vivência, com mais equilíbrio, mas também com mais leveza, mais poesia, mais música. E isso eu acho que vens captando, a música parece estar dentro de ti (é lindo te ver dançando, cantando o “sapo cululu”).
Ser pai é cuidar de ti – trocar as fraldas, dar banho, dar mamá, dar água. É dar carinho pegando-te no colo, enchendo-te de beijinhos. É te olhar no meio da madrugada para saber se estás bem; ou juntar-te do chão como aconteceu outro dia. É ouvir ou assistir a alguns filmes mais de cinco vezes ao dia. É colocar pomadinha acompanhada de beijinhos no dodói. É ver-te destruindo os batons da mamãe ou tentando pentear o “bêlo”. É rolar no tapete junto contigo com brincadeiras maravilhosas. É ver três mãos querendo pegar mais pipoca.
Mas ser pai da Maria Flor é o maior privilégio.

Eu te amo.







[1] Em contraponto a um livro lançado pelo escritor Vargas Llosa chamado Travessuras de menina má.

A poesia 'jeito de correr' foi extraída da obra 111 poemas para crianças, de Sérgio Capparelli, publicação da L&PM, em 2006, pág. 84.

domingo, 20 de março de 2011

[a difícil arte de cuidar de uma Flor]

Levi Nauter



Aqui em casa, filha, a gente possui flores e apesar do trabalho que temos fazemos de tudo para cuidar delas. As flores exigem de nós um cuidado tranquilo. Sabe, meu amor, até você já nos alerta: ‘auáua fossinha’ – traduzindo: colocar água na florzinha. Isso é maravilhoso porque muitas vezes a gente esquece mesmo.
Porém, há uma flor mais difícil de cuidar; uma flor mais bela, mais inteligente. Essa flor tem-me feito perder alguns sonos desde o dia 16-03-11. Mas faço isso com muito prazer. Tenho a impressão de que qualquer pai (ou a maioria deles faria isso).
Cuida de uma flor é fácil, cuidar da Flor é difícil.
Eu gostaria de falar apenas de coisas boas. Mas a vida não é feita só de coisas boas. Como essas viroses que te pegam e quase te derrubam. É por causa delas que nos vimos em apuros buscando aliviar-te dos antibióticos. Mas a pediatra homeopata e todas as pessoas bem informadas sabem que a tal homeopatia leva tempo. Estamos tentando.
Quarta-feira, 16-03, levei-te até a Dra. Vera. Estavas com secreção nasal e bastante tosse; nenhuma febre. Ela receitou uma medicação homeopática. Demos a você. Dois dias depois, não em razão da medicação, lá estava eu, outra vez. Ao longo da madrugada tiveste febre. Então, fomos orientados a te medicar de hora em hora. Ganhei uma receita de antibiótico para o caso de a febre não baixar. No dia 20-03 estávamos eu, mamãe e alguns parentes teus muito preocupados. Tua febre não baixava dos 38, 39,5. Teu rosto – que consideramos lindo, lindo – estava vermelho e era uma quentura só. Choramingavas o tempo todo, pedia colo a todo instante e tomava muita água. Saí a cata do antibiótico aqui onde moramos. Não havia farmácia aberta; a única que encontrei não tinha o remédio (Amoxil BD 400). Fomos para Canoas, compramos o remédio e te damos. Aproximadamente três ou quatro horas depois a febre começava a ceder. Mamãe, que só chorava de tão nervosa, começou a se acalmar. Você, amor, que até então estava acabrunhada começava a andar, a falar, a chamar pela vovó e pelo vovô.
Como foi maravilhoso ver-te brigando de novo, resingando, determinada a deixar claro o que queria. Ver-te com saúde é a melhor coisa que pode ocorrer com a nossa Flor preferida.
Estou dizendo isso para mostrar que a tarefa de um pai e de uma mãe é tão maravilhosa quanto árdua. Há momentos em que damos muitas risadas aqui por casa, junto contigo. Noutros, alegra-nos simplesmente contemplar-te brincando, sorrindo e cantando. Há outros, ainda, que choramos ao ver o teu choro; sentimos dores quando te vemos abatida e sem aquela leveza de menina linda que és. E estamos fazendo e sempre faremos tudo o que for necessário para te ver bem. Agora temos um novo desafio pelos próximos doze dias: fazer-te tomar o remédio de 12 em 12 horas. Talvez isso dê outro texto. Aí escreverei.
Te amamos.



sábado, 19 de março de 2011

[epíteto]

Levi Nauter






Sei que meu coração ta batendo mais forte
porque você chegou.

Vander Lee





Oi amor,
Hoje acordei pensando em poesias pra ti. Trechos de músicas que me remetem diretamente a ti. Então decidi que nos próximos textos, lá em cima, eles vão aparecer primeiro. Como neste texto que postei como exemplo.
Será a minha homenagem a ti que deixa meus dias mais musicais, mais poéticos, mais iluminados.







NOTA
- Texto escrito ao som do ótimo CD Grace in the wilderness, do irlandês Eoghan Heaslip. O cara é muito bom, filha, e um dia acho que serás fã dele também.
- A ilustração é o teu primeiro desenho oficial. Foi feito no segundo dia da escolinha – fevereiro, 2011.
- O trecho, lá em cima, é parte da poesia composta, musicada e cantada pelo mineiro Vander Lee. A música chama-se Iluminado.




terça-feira, 15 de março de 2011

só rindo

Levi Nauter




Amor,
hoje ocorreu algo bem legal, que me encheu de alegria.

Estava trabalhando e um senhor que eu não via há muito apareceu lá na escola. Porém, não entrou – ficou do lado de fora. Ergueu os braços e fez um sinal do tipo tchau. Mas seu comentário me deixou feliz:
- O senhor está rindo mais, disse-me ele.
Então a diretora da escola intrometeu-se:
- Ah, seu fulano, ele ta assim desde que virou papai. É babão ta sempre rindo e falando na filha.


Como não sorrir de felicidade tendo você? Desde 2009 meus dias são mais alegres.

Eu te amo.






NOTAS
Fato ocorrido em 11-03-11, senti-me tão gratificado que interrompi outros textos que quero te escrever para apurar com este.
 A foto foi tirada na casa e pelos tios Ane e Jones que andam apaixonados por ti. Teu jeitinho e tua alegria os tem contagiado.