sexta-feira, 30 de setembro de 2011

[autonomia]

Levi Nauter





Amor da minha vida,



Tu estás fazendo algo bem interessante e sobre o que não intervimos. Ou seja, quando nos damos conta a resposta começou a ser natural vinda de ti. Uma pequena amostra da tua autonomia, da tua ousadia, da construção de tua própria história.

Outro dia a gente estava contigo – dando risadas, te dando beijos, te ‘amassando’, te enchendo de carinho – e eu ou a mamãe, não lembro direito, te chamamos por alguns dos nossos apelidos carinhosos, aqueles que pais têm na intimidade do lar (amor da minha vida, flor, florzinha, neguinha, bichinho, presente de Deus – entre outros adjetivos que buscam traduzir nosso amor por ti). E tu não tiveste dúvida em nos corrigir.


- tu é o amor do papai? – indaguei esperando um sonoro “xim”.

- não, não é amor. É Maía Fô de Mila.



Ora, se isso não é ousadia.



Nós te amamos.







NOTA
A foto, a mamãe tirou na nossa melhor viagem a Nova Petrópolis.



sábado, 24 de setembro de 2011

[um mimo pra ti, filha]

Levi Nauter















eu sempre acreditei no amor de Deus
eu sempre acreditei que Ele tinha o melhor pra mim
eu nunca duvidei do Seu cuidado
mas foi tão bom quando Ele começou a demonstrar isso.
Primeiro Ele me deu a mamãe.
Foi como se dissesse:
viu como eu sou bom?


Depois de um tempo
eu e a mamãe começamos a notar
que o Papai do Céu era bem maior
resolvemos pedir um presente como forma de amor

Ele nos deu uma Flor.

A Maria Flor.

Incrível a Sua bondade,
deu-nos um presente que foi a mistura de nós dois
Mais incrível ainda: um presente pra toda a vida.



Filha,
como eu gostaria de escrever melhor. No entanto, essa falta de jeito não poderia impedir de dizer um pouco do que sinto por ti. Se eu fosse gênio, transformaria essa música numa linda canção tipo a que eu e a mamãe andamos ouvindo em casa:

... se eu fosse um peixinho, soubesse naná, salvava o papai do fundo do má”

... se eu fosse um peixinho, soubesse naná, salvava a mamãe do fundo do má”


Você é o nosso maior presente. E nenhum valor paga a alegria de estarmos contigo.

Nós te amamos!!!




 

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

[começando com Deus]

Levi Nauter





Maria Flor,
Como tu deves ter percebido, até agora não falamos do “papai do céu”. E foi de propósito. Deus é um Ser, pelo menos pra mim, que possui no mínimo duas características básicas: é com letra maiúscula sempre, e dispensa comentários. Nunca tive pressa em converter ninguém, não seria agora nos meus quase 40 anos de idade. Ele sempre sabe como trabalha, Deus sabe o que vai no nosso coração e, sobretudo, sabe que não é só no blá-blá-blá que demonstramos nosso cristianismo.
Mas ocorre que desde que mudaste de turminha na escola tu vens falando com o “papai do céu”. Sem muita consciência disso, é claro. Como o teu desenvolvimento é estrondoso, chegamos ao ponto em que (com muita alegria digo isso) tu me relembras quanto eu deveria conversar mais com o meu Deus. Desse modo, toda vez que arrumamos a mesa (seja a pequenina, rosinha, no entorno da qual sentamos eu ou a mamãe com o maior esforço devido ao nosso tamanho, seja na maior onde qualquer pessoa que nos visita faz a refeição) tu nos faz um convite em forma de puxão de orelha: “- a gente não orô papai du céu”. É quando eu e a mamãe, depois de nos olharmos, ajeitamos nossas mãos e pedimos que faças o que estás propondo.
E tu oras.
Assim como eu (se não mais) Deus deve ficar muito feliz ao ouvir tua voz. Além disso, eu também me considero um felizardo em ter (pelo menos aparentemente) acertado a escola infantil na qual estudas. E não foi à toa que a escolhemos. Eu e a mamãe somos cristãos; evangélicos e sem compromisso com instituição religiosa. Servimos a Deus, pelo menos por ora, no modelo de igreja mínima (“...dois ou três reunidos em meu nome...” -   ). Procuramos demonstrar Deus através do nosso ânimo diário, do respeito que temos um pelo outro na nossa família e para com nossos familiares. Queremos ser luz do mundo fazendo a diferença e não só com autopromoção. No jeito que te tratamos, na cosmovisão que paulatinamente vamos compartilhando contigo.
Mas esse papo pesado ficará para mais longe, bem mais longe.
Por ora contenta-nos ter você por inteira perto da gente. Aonde a gente vai pode te levar.
Por enquanto queremos mais é aproveitar a tua oração:

Papai du céu
Muitu bigada
Pelaumôço di hogi
Amém.

E a nova versão:

Papai du céu
Muitu bigada
Pelaumôço di hogi
Em nomi di Sessus
Amém.


A oração feita por ti é linda. Só falta a gente adaptar os horários, pois o café da manhã ou da tarde, o lanche, a janta, tudo para ti é “aumôço”.
Eu te amo.










NOTA
Eu tirei a foto de ti. Tu estavas tão linda...
A foto também representa essa tua fase de dizer que está envergonhada por quase tudo. E no começo, porque depois...

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

[minhas flores]





Vocês deixam meu dia bem mais alegre. 
Amo vocês.


Levi Nauter

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

[medinho 2]

Levi Nauter



Maria Flor,

Hoje estou escrevendo para falar de um medo que você diz ter e que, na verdade, me soa bem mais como um “to com vergonha”.
Tu estás numa idade linda. É maravilhoso te ouvir dizendo um palavreado diferente, cantando músicas de todos os tipos (cristãs, folclóricas, MPB e até sertanejo universitário). As tuas sublimações com as bonecas deixam a gente boquiaberto com tanta esperteza, criatividade e saúde.
Atualmente tu tens demonstrado uma vergonha das pessoas que chegam à nossa casa. A gente diz, por exemplo, que fulano ou sicrano vão vir e tu, agarrando nossas pernas, começa a dizer que está com medo. Outro dia uma perereca estava no banheiro. Ouviste o barulho e perguntaste quem era:
- é uma sapo, filha – respondi esperando acabar com a dúvida.
- sapo cururu? – questionaste.
- é.
- to com medo papai.

Nessas horas tenho feito o possível para te tranquilizar. Não é meu intento te educar com base no medo.

Te amo muito.





NOTA
Desenho e texto de Mauricio Pereira para o seu livro CAUSOS DE ASSOMBRAMENTO EM QUADRINHOS - obra publicada em 2009 pela Frase e Efeito.

poesia para ti 7

Levi Nauter


Sabe , filha,
Outro dia eu li um livro que falava de filhos e de como um pai deveria ‘ver’ seu filho. Fiquei contente porque tem sido como te vejo: meu anjo, meu presente, minha alegria, às vezes uma dorzinha de cabeça boba.
Sempre que penso no teu futuro tento manter a calma nesse mundo da pressa e pressão.
Encontrei, visitando as bibliotecas (um vício que eu adoro), uma poesia que me remeteu a essa coisa de pai de pensar sempre num futuro maravilhoso a quem a gente mais ama.
Dá uma lida.
Entre o ser e o ter, acertar o que há de ser.
Entre o ter e o ser, tecer o que há de vir.
Entre o ser e o ter, aceitar o que há de ser.
Entre o ter e o ser, torcer pelo que há de vir.
(...)



Te amamos muito, filha abençoada.







NOTA
A poesia é um extrato retirado da obra O rei do Manacá, de André Muniz de Moura e de Alê Abreu (que fez os desenhos). Retirei da 1ª edição, 2009, publicada pela editora Frase e Efeito. O desenho ilustrativo está na p. 31 do mesmo livro.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

[trabalheira]

Levi Nauter




Queridíssima filha:

Passei aqui um tanto exausto hoje.
Tu és o ser mais maravilhoso que existe na face dessa terra. Todas as tuas estripulias, as tuas peraltices e os teus ranços nos ensinam muito. A gente tem aprendido muito sobre a paciência, a longanimidade e, sobretudo, sobre o amor ágape.
Há momentos, porém, em que é bem cansativo. Estaríamos mentindo se não confessássemos isso. Uma parte da tua vivência – por mínima que ela é – não estaria bem contada se tu não nos cansasses. E tu, em alguns momentos, cansa!
És bastante (bastante mesmo) geniosa, há momentos em que, sem titubear, tu bates, mordes, gritas e fazes tudo aquilo que – outrora – a gente achava horrível nos outros. Castigamos-te, nos limites compreensíveis a tua idade, conversamos, tentamos quase todos os recursos persuasivos possíveis e ainda assim não tem jeito.
Nesses momentos lembramos-nos de uma bela canção do Palavra Cantada cujos grifos são meus.

            CRIANÇA NÃO TRABALHA
Lápis, caderno, chiclete, pião
Sol, bicicleta, skate, calção
Esconderijo, avião, correria, tambor, gritaria, jardim, confusão
Bola, pelúcia, merenda, crayon
Banho de rio, banho de mar, pula cela, bombom
Tanque de areia, gnomo, sereia, pirata, baleia, manteiga no pão
Giz, merthiolate, band-aid, sabão
Tênis, cadarço, almofada, colchão
Quebra-cabeça, boneca, peteca, botão, pega-pega, papel, papelão
Criança não trabalha, criança dá trabalho
Criança não trabalha...
Lápis, caderno, chiclete, pião
Sol, bicicleta, skate, calção
Esconderijo, avião, correria, tambor, gritaria, jardim, confusão
Bola, pelúcia, merenda, crayon
Banho de rio, banho de mar, pula cela, bombom
Tanque de areia, gnomo, sereia, pirata, baleia, manteiga no pão
Criança não trabalha, criança dá trabalho
Criança não trabalha...
Giz, merthiolate, band-aid, sabão
Tênis, cadarço, almofada, colchão
Quebra-cabeça, boneca, peteca, botão, pega-pega, papel, papelão
Criança não trabalha, criança dá trabalho
Criança não trabalha...
1, 2 feijão com arroz
3, 4 feijão no prato
5, 6 tudo outra vez...


Te amamos, filha.