sábado, 28 de agosto de 2010

exames



Levi Nauter

Hoje vou falar do exame cardiológico que prometi noutro texto. A mamãe, Lu, e eu fomos até o hospital da criança a fim de acompanhar-te num eletrocardiograma. Para esclarecer melhor, a tua pediatra fez esse encaminhamento porque ‘finaste’ chorando, preocupando tanto a mim quanto à mamãe. Sem contar que esse assunto parece de domínio público, ou seja, todos teimam em dar algum pitaco. E assim ouvimos coisas como “ergue ela e assopra”, “dá um safanão”. Há ainda os que dizem “não tem o que fazer”.
No dia do pequeno acidente (uma gaveta caiu em cima de ti – porque a puxaste com muita força – e sangraste na boquinha) ocorreu que não sabíamos muito bem como agir. Peguei-te no colo – assustado – e perguntava para a Lu: o que é que eu faço? Apavorado, fui até a pia de um dos banheiros lavar tua boca, nesse meio tempo voltaste ao, digamos, choro normal. Soluçando de tanto chorar, erguia as mãozinhas tentando explicar o que acontecera.
Na primeira consulta médica questionei a doutora: o que se faz quando uma criança se fina chorando? ‘Nada’, disse-me ela, ‘quando muito coloca-se a mão no rosto dela para que ela sinta que alguém está perto’. Não conformado, perguntei se isso era tudo. A criança pode morrer? – complementei. “Dificilmente, é necessário saber se o ‘finamento’ é manha ou fruto de algum acidente”. Opa, a resposta estaria perto. “em caso de acidente”, continuou, “deve-se fazer um eletrocardiograma para verificar alguma sequela”. E lá fomos nós.
No dia do exame estavas tão elétrica que tivemos de repeti-lo três vezes – em cada uma das repetições os papais tiveram de segura-te com firmeza. Querias olhar para todos os lados possíveis.
Para variar, graças a Deus e à tua força, tudo estava em paz. Não ficaste com nenhuma sequela.
Espero que não puxes a gaveta novamente.
Mas continue assim curiosa, crescendo e aprendendo.
Te amamos.



NOTA
A foto foi deste bobo pai, via celular.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

refeição




Oi amor da minha vida:

Se eu pudesse ficaria só no micro escrevendo pra ti. Acho fascinante essa idéia que tive de escrever as minhas emoções para serem lidas daqui a alguns anos pela filha que eu amo. Então é um prazer e uma extrema curiosidade em saber quais serão as tuas reações lá adiante.

Bom, eu quero falar do primeiro dia que almoçaste sozinha aqui em casa. Foi nesse domingo, dia 23-08-10. A mãe colocou a comida no teu pratinho e eu foi te alimentar. Comeste umas duas colheradas. O que ouvi depois foi um inconfundível “não” – quando viste a colherinha indo ao teu encontro. Tentei mais algumas vezes, mas querias pegar o prato. Não dei. Brigaste comigo.
De repente, ias até a cadeirinha e fazia algum sinal que entendemos como tua vontade de sentar nela. Fizemos isso. Pediste o pratinho e mandaste ver.
A coisa mais linda do mundo. Aquela tua mãozinha agarrando, desengonçada, a colher. Ah, que vontade de encher de beijos. Colocavas a colher cheia de comida na boca e ainda enfiavas os quatro dedos na boca para tentar colocar um grão de arroz que ficara nos lábios. Lindo!!!
Evidentemente que não agüentei e tirei fotos para registrar esse momento histórico.
Ao mesmo tempo em que nos deu uma alegria imensa, deu também uma pequena pontinha de tristeza. Afinal, aquele serzinho tão pequenininho estava ali se desprendendo mais um pouquinho de nós. E a vida é isso aí, a cada dia irás desprender-te de nós e assumir a tua tão saudável autonomia.
Filha, eu e a mamãe te amamos muito. 




quinta-feira, 19 de agosto de 2010

desenho para a flor

Um desenho para ti.








Como se fosse o meu abraço junto com o da mamãe.
Nós te amamos, filha!!!





da obra Folha, de Stephen Michael King. São Paulo: Brinque-Book, 2008 - pág. 37.

poesia para a flor

Levi Nauter




Há textos, filha, que leio e penso em ti. Não sei bem por quê. Talvez pelo ritmo e por imaginar-te dançando e batendo palmas. Ou ainda por querer que sejas leitora de textos que te façam voar nas asas da imaginação.


Olha o que separei pra ti.





 




[o sol e a menina]




Hoje, muito cedo,

o sol saiu.

A menina não acordou

e o sol sumiu.



Depois, mais tarde,

o sol voltou.

A menina deu sorriso

e o sol ficou.



Depois do meio-dia,

o sol esquentou.

A menina olhou pro céu

e o sol se encantou.



Hoje, muito tarde,

o sol se escondeu.

Ficou vendo a menina

e de partir se esqueceu.








In “Lua no brejo com novas trovas”, de Elias José, 2 ed., Porto Alegre: Editora Projeto, 2010. O desenho, no mesmo livro, é uma ilustração da Graça Lima.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

palavras

Levi Nauter



Filha maravilhosa:
Tu não imaginas o quanto somos felizes por te ter aqui em casa. A nossa vida mudou completamente, em todos os sentidos. Outra pessoa numa casa, tendo saído de nossas entranhas, é uma maravilha só. Quando estás dormindo a gente fica te apreciando; enquanto te alimentas (já estás na época em que tentas as primeiras autonomias com a colher) ficamos admirados com a tua evolução. Quando eu ou a mamãe te damos banho ficamos abobados com a tua euforia – uma das coisas mais lindas do mundo é te ver tomando banho, faceira, empolgada com a água, com a espuma do sabonete. E o que são tuas perninhas brigando para não sair do banho? Lindas. A gente dá muita risada. E a nossa felicidade só aumenta.
Mas agora deste em falar sem parar.
Ontem, liguei para a mamãe da escola onde trabalho à noite. Enquanto conversávamos ouvia teus gritinhos, querendo falar ao telefone.
Meu anjo, que emoção foi ouvir tua voz. Tanto eu quanto a mamãe ríamos de tão felizes. A mamãe disse que tu caminhava pra lá e prá cá na garagem – como se fosse gente grande. Ao telefone, eu nada entendia do que tentavas me dizer, mas a felicidade foi tanta que isso era o que menos importava. Repeti diversas vezes que amava e ouvia do outro lado da linha um lindo “ah?”. Como sonhei nesse instante estar pertinho de ti para te encher de beijinhos no rosto.
A gente já não pode mais atender o telefone sem que queiras conversar também com quem nos liga.
Isso só reforça a nossa tese: és o melhor presente que poderíamos ter ganhado de Deus.
Te amamos muito.
 

sábado, 7 de agosto de 2010

dia dos pais 2


Levi Nauter





Oi, filha[1]:
Hoje é sexta-feira, dia 06-08-10, meu último dia de recesso escolar. Na segunda-feira terei de voltar à rotina de trabalho, tu vais para a escola infantil e nos veremos com intervalos maiores. Sairei às 7h e chegarei às 23h. antes disso, domingo, será um dia muito especial para mim. Ele me interessa mais que a segunda.
Desde o teu nascimento e até o fim dos meus dias essa sempre será uma data especial, uma data feliz. Uma data cheia de graça e de flor. Sempre considerei que a minha vida não teria muita graça se eu não fosse pai. Ser pai sempre me pareceu uma tarefa de grande responsabilidade e alegria – ao mesmo tempo. Mas nunca pensei que fosse ser pai de uma pessoa tão maravilhosa como tu és. Há tanto para dizer que nem sei como dizer[2].
A tua chegada mudou a minha vida. O teu desenvolvimento tem feito o mesmo comigo. Contigo tenho revisitado minha meninice: rolo no chão, imikto bichos, grito, pulo e danço, entre outras peripécias.
A cada dia estás mais linda.
Sabe, amor, nesse dia dos pais eu me sinto um privilegiado. Tenho o meu pai e sou o teu pai. Aprendi coisas com ele e aprendo contigo. Tenho tentado te dar todo o carinho do mundo e ser um pai cada vez melhor.
Nesse segundo ano de comemoração fica em mim a imagem de um serzinho bastante carinhoso. Quando chega a noite, tu fazes carinho em mim e na mamãe. Tuas mãozinhas acariciam e emocionam-nos, tua voz enrolando nas palavras também.
Ah, como é bom de mais ouvir e ver o teu sorriso. Ver-te dormindo no meu colo. É maravilhoso ver tuas pernocas balançando, teus joelhos se dobrando ao som de qualquer música. O “papaiiii” com o teu tom dengoso é irresistível.
Tudo que você faz nos enche de orgulho. As prôs da escolinha vivem te elogiando e isso nos dá muita alegria.
Ah, filha, tu és tudo de bom. Deus não poderia ter me dado presente melhor.
Eu te amo muito. E a tua chegada tornou meus dias mais coloridos.
Minha sapeca preferida.
Beijão!!!


PS: adorei o blusão que tu e a mamãe me deram.









[1] Texto escrito ao som de um disco que provavelmente vais gostar: Fearless, da Taylor Swift.
[2] Dia dos pais 2, porque no primeiro dia dos pais escrevi um outro texto noutro blog ( http://anotacoessobreumcristianismo.blogspot.com/2009/08/pais-e-filhos-agora-e-fato.html ).

 NOTA: a foto eu tirei enquanto te procurava numa loja.