segunda-feira, 27 de junho de 2011

poesia pra ti 6



Querida filha,
agora pude retomar os textos pra ti. No momento a gente não tem (nem está fazendo falta) a internet. Fico restrito, assim, ao meu local de trabalho ou à boa vontade de algum vizinho permitir minha entrada via internet sem fio. 
Mas enquanto isso, fico curtindo cada momento contigo. Resolvi transcrever mais um trecho de poesia pra ti. Trata-se do ótimo Sérgio Capparelli, escritor e professor, que escreveu - entre outras obras - A árvore que dava sorvete, um belo livro da editora Projeto.

(...)


Drome, drome
Dromedário

Foi-se embora
O cansaço
E você dorme
No meu braço

Drome, drome
Dromedário

                    (...)

 A foto ilustrativa foi tirada por mim, um pai louco de amor por ti. A qualidade não ficou muito boa, mas refresca a minha memória. E nesta, tua imagem é em HD.

[a difícil arte de cuidar de uma Flor II]


Levi Nauter

Meu amor,
Hoje me peguei verificando os títulos que já dei para os teus textos. Parei em ‘a difícil arte de cuidar de uma Flor’. Como podes notar, repeti-o e acrescentei o número dois. Isso porque continuo achando que há momentos embaraçosos no cuidado contigo.
Calma! Não é culpa tua. Não é culpa minha. A culpa não é de ninguém. Na verdade tudo está seguindo o caminho natural da vida. Já visitamos, desde que nasceste, três conceituadas pediatras de Canoas – sendo uma pneumo e outra homeopata, e todas foram unânimes em dizer que essa situação seguirá até por volta dos teus quatro aninhos. Ou seja, ainda tenho mais dois anos para me acostumar vendo-te adquirir imunidade a partir de um pouco de sofrimento. Nada prazeroso para um pai como eu.
Nos últimos três meses, a cada quinze dias, passamos pelo martírio das consultas, ou dos laboratórios clínicos, ou das farmácias (pedindo desconto). Há lugares nos quais teu nome já é bem conhecido: “ah, a Maria Flor...”. porque a mamãe trabalha em escola e com alunos, eu é que te levo à maioria das consultas. Nisso há um problema de gênero: os homens quase sempre esquecem algum detalhe. “Tu falou que ela teve febre tal dia?” ‘Não’ – respondo envergonhado. “E disse que ela já tomou o remédio tal?”, ‘Bah, esqueci’. A gente, em geral, tem apenas um foco. A fim de amenizar, escrevo bilhetes e já chego tascando às doutoras: “eu tenho uma listinha de coisas pra lhe dizer e/ou perguntar”. Elas sempre riem.
Nas farmácias o choro, tanto meu quanto da mãe, é pelo maior desconto possível. A média de preços em remédios é de R$ 200,00; com nosso choro podemos chegar a uns R$ 170,00 – aproximadamente. Em um mês, é de preocupar não o gasto em si (porque você não tem preço) mas o tanto de remédio que você consome. O tratamento homeopático, tão propalado atualmente, comumente é suspenso pela própria homeopata que opta, digamos, por uma resposta mais rápida.
Nada se compara, no entanto, com os laboratórios clínicos. Neles os teus medos, filha, vêm à tona. Houve um exame de urina, por exemplo, quando tinhas um aninho, que foi feito no Hospital Santo Antônio. Uma pequena bolsinha de plástico foi posta na tua pepequinha. Em razão de nada sair e só te assar, a médica (como nos deu raiva dela) resolveu fazer ‘punsão’ – uma das coisas mais terríveis aos pais. A médica pega uma seringa com agulha, fura tua pele (abaixo do estômago) pprocurando atingir a bexiga e ‘puxar’ a urina. Teu choro era tão intenso que mais parecia um ‘uivo’, uma coisa horrível. Eu e a mamãe choramos juntos, impotentes, só queríamos o melhor pra ti.
As vacinas foram um caso à parte também. Existem algumas que o governo não dá. É necessário, então, se os pais tiverem interesse e um pouco de dinheiro, que se pague para fazê-las. E assim agimos. Uma delas, admitidamente dolorida, exige que o pai ou a mãe segure firme a perninha da criança para que não se mexa. Deu uma dor em nós ter de fazê-las, mesmo sabendo dos benefícios. Bem que poderia se estudar a criação de algo indolor. Enquanto isso não acontece, o jeito parece ser entreter-te até que tu sintas a picada da agulha e aí a injeção já terá sido feita.
Dia desses tive de levar-te para fazer um Rx de seios da face e pulmões. Que desafio! Primeiro porque ninguém queria fazer Rx em uma criança de dois anos. Conseguida a clínica, marcamos para as 11h a ‘fotinha’. No caminho, de carro, fui dizendo o quanto seria legal a foto que ela iria tirar. Então tive o segundo motivo do desafio. Ao entrarmos na sala ela começou a chorar. “Com ela chorando não dá pra fazer” – disse o técnico, um senhor de idade, aparentando estar zangado. Vendo que você não parava, meu amor, ele disse: ‘a doutora deve ter um remedinho que a faça ficar calma e até dá um soninho’. Corri contigo até a pediatra que não quis dar o remédio. Fui para casa da vó Jussara; ali almoçaste e não te deixei dormir. No meio da tarde retornamos à clínica. A essa altura, já era uma técnica e não mais o técnico. Aquela, diferentemente deste, trouxe um pirulito (do Patati e Patatá) e fez uma negociação contigo: “Flor, vamos tirar uma foto e depois eu te dou este pirulito, ta bom?”. E assim fizemos o Rx.
Para finalizar, meu amor, nosso último exame (digo nosso porque fui junto) foi uma ecografia, com pesquisa gástrica a fim de detectar um possível refluxo. Quando te coloquei na maca para o exame, assustada, começaste a chorar. Afinal, uma sala sem luz forte, com três monitores ligados, barriguinha de fora e tantão de gel por cima... Fiquei pertinho segurando tua mão e tentando te acalmar. Eram lindas aquelas lágrimas de medo. A doutora conversou na vã tentativa de também te acalmar: “olha bebê, você vai aparecer na televisãozinha”. Nada estancava teu choro. Restou-me, com bastante compaixão, acarinhar teu rostinho e, após o exame (que nada detectou), encher-te de beijinhos.
Por que eu contei tudo isso? Para dizer o quanto te amo, pra dizer que muitas das tuas dores doem em mim e na mamãe também.














NOTA
A foto é uma prova de todo um rodeio que tivemos de fazer pra você se convencer de fazer um raio x de seios da face e pulmões. Tivemos de te dar um pirulito que carimbava as fotos de Patati e Patatá. Enfim, conseguimos.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

[criatividade]

Levi Nauter






Estávamos na vovó. Acho que tu estavas meio entediada com os papos caretas dos velhos e de teu pai que já caminha mais pra banda da velhice. Mas são ótimas e inesperadas as tuas saídas para as coisas. Ora, não havia nada ali que te entretecesse. Usaste a criatividade.



A foto, apesar de ser num celular, ficou linda.
Bem que eu ouvia aquela voz de criança a dizer “tchau papai, tchau vovó, tchau vovô...”

Eu te amo, muito.












[diôvo]

Levi Nauter





Filha querida,
Nesse final de semana (14 e 15-05-11) eu fiquei mais velho. Fiz 37 anos. É, estou beirando os 40. Ainda lembro do meu tempo de criança, quando perguntava para o tio Jones ‘o que tu quer ser quando crescer?’. Recordar o que dizíamos um para o outro me dá alegria e uma certa saudade daquele tempo. Mas alegra-me saber que estamos bem, cada um de nós construiu um caminho no qual vem trilhando com tranqüilidade.
Ganhei um bom presente da mamãe nesse aniversário; também de meus colegas de trabalho. Um bom presente do vovô Josué. Gostei de todos. É sempre bom ser lembrado. Mas nada, absolutamente nada, supera você, filha, meu maior presente. E assim serás pra sempre. O melhor de todos os presentes.
E sabe o que me dá mais alegria? Ver-te brincar. Tu estás numa idade muito linda e com a qual sempre sonhei, imaginei. E isso porque é a fase de pequeninas perguntas, do sorriso fácil, das grandes descobertas (diferentes sons da fala e das palavras, dos gestos, de caminhadas mais longas, de aprender a pular e de pedir bis pelas brincadeiras que mais gosta). Nessa tua fase, filha, eu ando aproveitando tanto quanto tu. Por exemplo, eu amo música e tu pedes repetição de algumas; é ótimo porque eu – em geral – não canso, também quero ouvir algum detalhe a mais. E temos nos divertido1.
As brincadeiras de roda são outra atração. É uma das coisas mais singelas ouvir-te cantando “atiei pau no gatotô/mas o gatotô não moleu/dona chicaca mimilô cece...” Para essa cantiga é bem comum tu convidares a mim e a mamãe para te acompanhar. É nelas também que a gente ouve o “diovo” ou “ de novo”. Ai da gente se estiver cansado.
Se contar outras coisinhas que tu andas fazendo: sobe e desce da cama com a maior facilidade, mexe nas gavetas do criado-mudo e tira as roupas pelo prazer de dizer “isso é da mamãe”, “isso é do papai”. Embora ainda não consiga, queres pentear o próprio cabelo; passar batom, colocar anel e ainda escolhe a roupa. No mercado queres empurrar o carrinho de compras e, por mais lotado que esteja, não aceitas a nossa ajuda. Na casa da avó ou de alguns parentes tiras as coisas do lugar, rola no chão, descobre onde estão os sapatos femininos e queres experimentar cada um deles.
As bonecas é que sofrem com as tuas broncas e brabezas. Tu as xinga, canta pra elas, bate nelas, atira-as longe e por vezes dorme com elas. Se elas falassem diriam que não agüentam mais o “nana neném”, sem contar que enquanto cantas os teus embalos são de quase quebrar o pescoço delas. Mas que coisa mais linda!
Tanto eu quanto a mamãe damos o maior apoio às tuas brincadeiras. Consideramos extremamente importante esse processo de representação que todo o bebê tem, mas que nem todos os pais respeitam. Enquanto fores criança o meu desejo é que sejas criança na plenitude, ou seja, que brinque muiiiiiiito. Aristóteles, um filósofo sobre o qual tu ainda vais ouvir muita coisa, já dizia: ‘brinque para ser sério’. Brincar é parte do estar vivo. Talvez Jesus, outro cara de quem tu vais ouvir muito, quisesse dizer o mesmo – que para se ir bem na vida é preciso muitas vezes ser como criança.
E para a minha felicidade, a revista Pátio, especializada em educação, traz na edição infantil uma série de artigos que vêm corroborar com essa nossa ideia. A importância da brincadeira durante a infância. Especialistas, com seus trabalhos de pesquisa, vieram contribuir para aquilo que temos observado e vivido na prática.
É gratificante percebermo-nos no caminho certo.
Te amamos. Continue brincando bastante.



1 Um exemplo disso é a música Lá em casa, que o Palavra Cantada interpreta, uma canção que exige memória e que me faz te olhar e dar risadas das tuas imitações do final da poesia.


A foto foi tirada por esse teu pai que é louco por ti e ama te ver brincando de gente grande.

[fofoquinha 2]

Levi Nauter



Querida filha,

amanhã (03-06-11) mamãe começa um aperfeiçoamento intelectual e profissional que durará aproximadamente um ano e meio. Irá se especilizar no Ensino Fundamental. Será um bom argumento para ficarmos mais perto, não só para brincarmos - vou te dar banhos, mamás, alguma fruta ou lanche ou janta. 

Seis meses após teu nascimento eu cuidei de ti três meses. O que diferencia agora é que tu já sabes o que queres e isso facilitará a nossa comunicação. 

Depois eu conto como está sendo.

Te amo.





NOTA

foto eu tirei com meu celular num dia em que estavas meio brava com alguma coisa.

saudadezinha


Oi, filha

Só passei pra expressar a segunda-feira. Entra e sai segunda-feira e é sempre assim.
Hoje, por exemplo, liguei umas três vezes para a mamãe. E em todas as ligações, por um motivo ou outro, o teu nomezinho estava no meio. De repente nos pegávamos imitando-te. Tivemos um fim de semana ótimo, tu bagunçaste toda a casa, mas a tua alegria é tão contagiante que é maravilhoso te ver brincar, olhar pra nós e pedir:
- brincar papai!
Como tu estás sapeca...

Eu te amo!!!






NOTA
A ilustração foi postada com o texto porque já fico imaginando quando tu começares a querer subir nos pés de ipê aqui em casa.
Desenho de Luciana Justiniani Hees para o livro ERINLÉ, O CAÇADOR E OUTROS CONTOS AFRICANOS, de Adilson Martins. Pallas, 2010,p 11.

Texto escrito em 30-05 e postado agora por falta de conexão.