terça-feira, 18 de março de 2014

é difícil ser pai

Levi Nauter



Maria,

Não era por onde eu gostaria de começar, mas ontem ocorreu um episódio que, acredito, será mais constante a partir de agora. Quando tu eras um bebezinho pequeno (porque ainda és um bebê só que grande) a gente (eu ou a mamãe) podia te colocar numa parte qualquer da casa que lá tu ficavas. Podia resmungar, mas ficava. Com o tempo, o que é perfeitamente normal, as coisas começaram a mudar. Atualmente, além de tu não fazeres exatamente como a gente gostaria, ainda protestas, argumentas, questionas.
Há outros momentos nos quais tu não fazes nada do que eu escrevi há pouco. Tu simplesmente ignoras uma ordem ou pedido meu e da mamãe. Foi o caso de ontem. Nós dois pedimos que tu fosses escovar os dentes para dormir – algo comum, corriqueiro na nossa casa. Mas você só nos enrolou. Começou com “pai, eu to terminando de pintar meu desenho”; depois foi “eu vou fazer xixi”, depois “eu vou da um beijo na mamãe” e assim foste arrumando desculpas de bebê grande. Chegou um momento que eu não aguentei.
O episódio foi esse: peguei-te pelo braço, levei-te até a porta do teu quarto e ordenei “pode deitar, agora!”. Fechei a porta do teu quarto, fechei a porta do meu quarto e tentei ler um pouco do material que estava estudando. Lembro pouco do que li.
Mas lembro bem de ti. Teu chorinho abafado, provavelmente com alguma espécie de medo.

Esse texto tem duas razões para ter sido escrito. A primeira é que, trabalhando em escola pública desde 1999, ainda fico impressionado com a quantidade de pais que “não está nem aí” para os filhos e/ou as filhas. A segunda é pra te dizer que tenho buscado ser diferente. Meu amor por ti é tanto que ao mesmo tempo em que acho importante e inadiável corrigir-te essa ação dói em mim.
Passei esse dia seguinte até agora pensando em ti, lembrando do teu rosto, das muitas palavras carinhosas que me dizes. E fico aqui um tanto chateado comigo e outro tanto pensando que esta talvez seja a função de um pai de verdade: corrigir e amar ao mesmo tempo. Mas não é fácil. E esse é um sentimento que a gente só entende quando tem um filho ou uma filha.

Eu te amo! Muito!!!





perto dos teus 5 anos

Flor,

Um dia um outro pai com uma filha bem mais velha que tu me disse: “cada fase da criança é especial”. Uma frase muito correta. Quando o teu tamanho era de dar dó de tão pequeninha eu pensava “quando ela tiver dois anos eu vou adorar”. Fizeste dois e eu pensei nos cinco. Agora estás à beira dos cinco anos de idade.
Olhando para trás tenho saudade de quando eras menorzinha. Ainda bem, fizemos bastante fotos tuas. Mas te olhando agora fico admirado com a tua beleza.
Filha, como eu te acho linda. Não são poucas as vezes em que olho para a mamãe e, sem que tu notes, sussurro “que coisinha linda a gente conseguiu fazer”. Fico maravilhado ao te ver, ao ouvir a tua voz. Tá aí uma das vantagens do teu crescimento: poder ouvir a tua voz bastante audível e inteligível.
Nesses cinco anos a minha vida mudou bastante.
Mudou para melhor.
Você chegou.
Eu te amo.



filha que eu tanto amo

Levi Nauter





Como o tempo se foi. O último rascunho que escrevi tu estavas para fazer quatro aninhos. E este texto está sendo escrito quando faltam treze dias para completares cinco anos.
Eu devo uma explicação.
No final de 2012, meu amor, eu fui atrás de um sonho antigo: continuar meus estudos. Assim, durante todo o segundo semestre daquele ano me dediquei estudando para as seleções de mestrado em educação. No mesmo ano, em dezembro, soube que além de ter sido aprovado na UNISINOS (uma das três melhores do país na área que eu buscava) meu projeto de pesquisa fora digno de uma bolsa integral via CAPES. Fiquei muito feliz; era, finalmente, o começo da realização de um sonho. No ano seguinte, 2013, continuei trabalhando manhã, tarde e noite, e acumulando as aulas do mestrado. Foi um ano muito corrido no qual tinha de ficar negociando dias com as direções de escolas. Quando chegava em casa eu já não aguentava a canseira; vivia com sono. Então dei um tempo nos nossos bate-papos virtuais. Neste ano, 2014, quero retomá-los.







Rascunho: janeiro-2014
Postagem: março-2014