sexta-feira, 26 de março de 2010

365 dias na melhor companhia

Levi Nauter



Hoje (24-03-10) é um dia tremendamente especial para mim. Jamais irei esquecer essa data. Até o fim dos meus dias lembrarei que nesse dia, há um ano, nasceu a minha obra-prima. Veio à luz um ser extremamente desejado e querido. Ah, menina, como foi emocionante a tua chegada. No início, um turbilhão de expectativas: virias bem? Precisarias da ajuda de algum aparelho para melhor respirar?

A mamãe em prantos, o papai até o último dos nervos. A única pessoa calma era a Dra Débora. Foi ela quem nos disse para 'tirar' você logo para esse mundão de Deus. Cansados e eufóricos, por volta das 22h vimos você chegar. E que chegada!!! Estávamos estávamos tensos, apreensivos; ainda bem, havia na retaguarda umas dindas que nos socorreram com roupas pra ti – além da máquina que garantiu algumas fotos desse momento imperdível. Eu não sabia se ria, se chorava, se ficava com compaixão da mamãe. Um turbilhão de emoções num só instante. Foi maravilhoso ouvir teu choro; era um sinal da vida, um sinal de que as coisas estavam bem. Tão bem que não fostes para a UTI, como se previa. Não há presente maior do que sair de uma maternidade com a criança da gente nos braços. Que Deus bom, filha!

Um ano depois, lembrar das cenas é reviver algumas daquelas emoções. Pois nesse período vivemos tantas outras maravilhosas. Acompanhamos tua evolução rápida com toda a nossa força. Conseguimos ficar contigo a maior parte do tempo e isso é privilégio de poucos. Absolutamente tudo que aconteceu até aqui foi acompanhado de perto por mim e pela mamãe. Olhar-te sorrindo, ver teus dentinhos crescendo e as palavras querendo sair é muito emocionante. Eu quase não tenho palavras para descrever tudo que sinto. Estou escrevendo no trabalho. E dá uma saudade enorme de ti. Uma vontade muito grande de te abraçar, te encher de beijinhos e ficar repetindo, mesmo que não entendas, EU TE AMO, EU TE AMO, EU TE AMO MUITO.

Tu és a flor da minha vida. Minha existência ficou mais cheia de graça com a tua chegada. És parte da minha vida. O presente de Deus mais perfeito que eu poderia ter recebido. 

Meu desejo é que Ele continue te dando saúde, muito sorriso, muita alegria. Que Ele nos dê sabedoria para criar-te como mereces. Que eu e a mamãe possamos ser um reflexo d'Ele para a tua vida. Sempre estaremos contigo, Flor que alegra a nossa casa. 

Te amamos muuuuuuuuuuuuuuuuiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiito.

Nós é que somos felizardos em sermos teus pais.
 

sábado, 13 de março de 2010

perto dos 365 dias...

... e achamos que ela está cada vez mais linda.

[o poder de um nome]

Oi filha!

O texto abaixo foi escrito quando tinhas quatro meses de idade. enrolei-me com outros afazeres. agora, no mês que completas 1 aninho, deixo-o como uma singela homenagem.

Te amo muito!!!

Levi Nauter




Qual é a sua graça? Qual é o seu nome? Quem é você? Qual a origem do seu nome? O que você quer ser quando crescer? Essas perguntas sempre vêm e vão. Em algum momento de nossa existência, ou nós ou os outros vão nos perguntar sobre. Então é melhor pensarmos desde agora.
Ao longo de meu recesso escolar de 2009 – prolongado em razão da Influenza A, H1N1 – resolvi reler uma obra adquirida há cinco anos. Esse ato, depois de um tempo, é sempre uma experiência interessante, ratificamos ou retificamos ideias, além de darmos boas risadas com algumas anotações que eventualmente tenhamos feito ao longo das páginas (comum em livros que adquiro). Li uma reflexão (outros chamariam meditação) de aproximadamente 240 páginas a respeito de um profeta do Velho Testamento chamado Jeremias. Este foi tão importante que há um livro homônimo na Bíblia em cujas páginas podemos encontrar as agruras de se estar vivo. Vale a leitura.
Trata-se de Corra com os cavalos...[1], de Eugene Peterson – um famoso professor de teologia do Regent College, Canadá. O autor intenta, com certo sucesso, uma cronologia biográfica do livro de Jeremias e de seu personagem principal e homônimo. Obteve sucesso, em minha opinião, sobretudo porque entrelaçou sua reflexão com autores contemporâneos, com filósofos, com poetas.
Na releitura, entretanto, o segundo capítulo chamou mais minha atenção. Certamente a razão é a vivência da paternidade. De repente, vi-me mais interessado em ‘o que poderia estar por trás de um nome’. Até então não pensara nessas ‘perfumarias’. Agora é diferente. Há uma certidão de nascimento cujo texto indica que eu, Levi Nauter, declaro haver nascido alguém em quem se pôs um nome. Portanto, a partir daí, esse nome tem – sim – importância, tem uma razão de ser, tem um porquê mesmo ante a minha ignorância no assunto. É disso que trata o tal capítulo do livro.
Peterson nos lembra que “o nome é a parte da fala pela qual somos reconhecidos como pessoa”. E o ato de recebê-lo é ainda mais significante. Envolve um contexto dentro do qual o nome foi pensado. Exatamente isso aconteceu comigo e com minha mulher ao nomearmos nossa filha. Ao longo de anos vínhamos pensando em um nome adequado. Por esse tempo, uma série de opções chegava, tomava conta e, com o passar dos dias – por razões diversas –, ia  embora.
Nomear é um caminho de esperança. Damos nome a uma criança pensando em alguém ou uma qualidade que esperamos venha ela a se assemelhar ou desenvolver. Pode ser um santo, um herói, um ancestral que admiramos. Alguns pais dão nomes a seus filhos, trivialmente, pensando em artistas de cinema e pessoas milionárias. (p. 31, grifo meu)
Comecei a pensar no nome que demos a nossa filha: Maria Flor. Por que Maria? E por que Flor? Antes das respostas segui com Peterson.
Quando pego uma criança em meu colo durante o batismo e pergunto aos pais: “Qual é o nome... deste bebê?”, não apenas estou perguntando: “Quem é este bebê que estou segurando?”, mas também, “Em quem vocês desejam que este bebê se transforme? Quais são suas esperanças para esta vida que se inicia?” (p. 32)
Lembrei da Maria, mãe de Jesus. Considero-a uma corajosa por enfrentar todo um preconceito e dar à luz um revolucionário, um salvador, alguém de quem se fala até hoje. Uma importante Maria.
Mas eu seria um mentiroso se não admitisse que a Bíblia, nesse caso, não falou mais alto que a maravilhosa música de  Milton Nascimento e Fernando Brant. Já me emocionava quando ouvia essa canção e nem era pai; agora tenho todas as desculpas do mundo para me desmanchar em lágrimas. A letra me soa como palavra de Deus, dá volume ao que desejo para meu amorzinho. Leiamos, juntos:
Maria, Maria é um dom, uma certa magia
Uma força que nos alerta
Uma mulher que merece viver e amar
Como outra qualquer do planeta
Maria, Maria é o som, é a cor, é o suor
É a dose mais forte e lenta
De uma gente que ri quando deve chorar
E não vive, apenas agüenta
Mas é preciso ter força
É preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca
Maria, Maria
Mistura a dor e a alegria
Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida

Eu continuo achando que viver é isso que a música expressa: uma mescla de sentimentos bons e ruins. Não somos cem por cento, embora desejemos mostrar uma infalibilidade. Há em nós um pouco de Deus e de Diabo. Carecemos da graça e da misericórdia divinas. E quando temos o privilégio de nomearmos nossos filhos, a ação não visa “à satisfação de um capricho; é uma expressão de esperança com relação ao futuro” (p. 34).
E a culpa é do Peterson. Veja o que ele registrou na página 34:
Dar um nome ao filho não deve visar à satisfação de um capricho; é uma expressão de esperança com relação ao futuro.
Eu espero que minha filha seja uma batalhadora, uma guerreira nesse mundo. Que ela seja uma cidadã de bem, de justiça, amante da paz e avessa aos modismos baratos. Que ela possa ter mais acesso nesse mercado cada vez mais competitivo; será importante, portanto, uma sólida formação. Desejo que ela tenha um gosto aguçado pela estética, por todo o tipo de arte, bem como o respeito ético pelo diferente. Que seu cristianismo não esteja acima do ser humano. E que o diálogo sobreponha qualquer razão.
O que acabei de dizer está implícito na canção do Milton, pelo menos essa é a minha leitura.
Quanto ao Flor, acho que é mais uma coisa de pai e mãe. Procuramos tratá-la como uma delicada flor. E como se cuida uma flor? Dá trabalho, mas o resultado compensa. A flor alegra, deixa o ambiente mais bonito, traz dinamismo à vida. Qual a graça de um lugar sem flor?
No fundo, eu termino concordando com o Eugene Peterson: cada criança “é uma criatura por meio da qual Deus pretende realizar uma obra gloriosa e grandiosa”.
Por favor, Deus, sinta-se à vontade.















[1] Corra com os cavalos: para quem busca uma vida de excelência, de Eugene H. Peterson, publicado no Brasil numa co-edição das editoras Ultimato/Textus, em 2003. Porém, a obra original é de 1983, mais uma prova de nosso atraso intelectual. A obra, atualmente, por razões comerciais, possui outro nome – Ânimo – e é editada pela Mundo Cristão.