Levi Nauter
Meu amorzinho:
É bem interessante que na medida do teu crescimento uma série de outras
coisas vão mudando. Claro, tudo é natural, eu sei. Mas ocorre que pouso se dá
valor a isso, menos ainda se registra essa mudança. Então esse texto é só para
refletir um pouco sobre isso e, dessa forma, comentar sobre o teu crescimento e
no que isso vem implicando.
Antigamente (não achei uma palavra melhor) era bem tranquilo irmos ao
supermercado. Naquela época bastava colocar-te na cadeirinha do carrinho que tu
dormias o sono dos bebês inocentes. Nesse mesmo período, não interessava aonde
a gente ia, todas as pessoas nos olhavam (a mim, à mamãe e a ti) e cochichavam:
“que bebê mais lindo!”. A gente ficava todo orgulhoso (no bom sentido da
palavra, porque orgulho nem sempre é ruim como dizem). Um outro período chegou.
Com ele, bastava a gente te colocar dentro do carrinho do super e tomar um
certo cuidado: não passar perto das embalagens que chamavam a tua atenção
(tarefa difícil se considerarmos que o marketing é sempre pesado em se tratando
de consumo). Porém, num determinado dia, tu caíste do carrinho. Foi um susto
horrível, as pessoas (que nessas horas parecem milhões) ficavam olhando e
provavelmente achando que ‘éramos os piores pais do mundo’. Mas sei que não
somos.
Agora tu não ficas dentro de nenhum carrinho. Nos teus três anos, tem sido
uma árdua tarefa irmos ao mercado contigo. Vamos porque entendemos que temos de
ir e, mais que isso, temos que te ensinar a como se comportar nessa espécie de
passeio. Em casa, antes de sairmos, a gente conversa contigo. A mamãe, muito
mais paciente que eu, explica TIM TIM por TIM TIM o que pode e o que não pode
ser feito quando a gente sai pra fazer compras de ‘comidinha’. Bem pouco
adianta da nossa conversa. Ocorre que justamente agora os teus gostos estão
vindo à tona. Assim é que a gente quer comprar leite e tu queres olhar
bicicletas (embora já tenha uma). Queremos dar uma olhada em vinhos, enquanto
tu queres ver bonecas (apesar de teres várias em casa). Mas em se tratando de
mercado tem uma coisa boa, a mamãe quer olhar coisas para a casa (modelos novos
ou diferentes de prato, xícaras, talheres, copos, ou outros badulaques) e eu e
tu queremos ver livros. Nessa hora, e só nessa hora, eu e tu nos fartamos. Vamos
pra lá, eu pego um livro e tu pega três. Desses três, pelo menos um tem ou
lápis de cor, ou canetinha, ou bichinho, ou buzinhinha... Os livros infantis
são feitos para que as crianças tomem o gosto pela literatura. E eu espero que
esse seja nosso momento. E desejo que tu sejas uma grande leitora. Muitíssimas vezes
mais que eu.
Nesse dia das crianças a gente resolveu aproveitar o feriadão e subir a
Serra. Outra vez foi diferente. Num determinado ponto do caminho resolvemos
esticar as pernas e tirar uma foto do lugar. Lá estava aquele serzinho saindo
da cadeirinha e querendo ver a paisagem tanto quanto a mãe e o pai. Aí me dei
conta de que eu tenho um ‘princípio de mocinha’ se criando com a gente. E como
nos sentimos felizes com isso, filha. A gente te ama muito.
Semana passada eu e tu, filha, fomos comprar pão. Quando voltávamos pra
casa tu chamaste a minha atenção: - olha pai, que legal aquilu lá! ‘o que,
filha’ – perguntei.
“Aquele lugar lá, ó, bem longe”. Realmente a paisagem era linda, uma
colina que parecia se perder nas nuvens lá pelos lados de Montenegro. Fiquei muito
feliz em saber que o que consideramos bom gosto estamos, pelo jeito,
conseguindo te transmitir.
Continue assim.
NOTA
O passeio de que
falei no texto. Eu não resisti.
Texto escrito em
outubro/2012 e ‘polido’ em novembro.