sábado, 13 de março de 2010

[o poder de um nome]

Oi filha!

O texto abaixo foi escrito quando tinhas quatro meses de idade. enrolei-me com outros afazeres. agora, no mês que completas 1 aninho, deixo-o como uma singela homenagem.

Te amo muito!!!

Levi Nauter




Qual é a sua graça? Qual é o seu nome? Quem é você? Qual a origem do seu nome? O que você quer ser quando crescer? Essas perguntas sempre vêm e vão. Em algum momento de nossa existência, ou nós ou os outros vão nos perguntar sobre. Então é melhor pensarmos desde agora.
Ao longo de meu recesso escolar de 2009 – prolongado em razão da Influenza A, H1N1 – resolvi reler uma obra adquirida há cinco anos. Esse ato, depois de um tempo, é sempre uma experiência interessante, ratificamos ou retificamos ideias, além de darmos boas risadas com algumas anotações que eventualmente tenhamos feito ao longo das páginas (comum em livros que adquiro). Li uma reflexão (outros chamariam meditação) de aproximadamente 240 páginas a respeito de um profeta do Velho Testamento chamado Jeremias. Este foi tão importante que há um livro homônimo na Bíblia em cujas páginas podemos encontrar as agruras de se estar vivo. Vale a leitura.
Trata-se de Corra com os cavalos...[1], de Eugene Peterson – um famoso professor de teologia do Regent College, Canadá. O autor intenta, com certo sucesso, uma cronologia biográfica do livro de Jeremias e de seu personagem principal e homônimo. Obteve sucesso, em minha opinião, sobretudo porque entrelaçou sua reflexão com autores contemporâneos, com filósofos, com poetas.
Na releitura, entretanto, o segundo capítulo chamou mais minha atenção. Certamente a razão é a vivência da paternidade. De repente, vi-me mais interessado em ‘o que poderia estar por trás de um nome’. Até então não pensara nessas ‘perfumarias’. Agora é diferente. Há uma certidão de nascimento cujo texto indica que eu, Levi Nauter, declaro haver nascido alguém em quem se pôs um nome. Portanto, a partir daí, esse nome tem – sim – importância, tem uma razão de ser, tem um porquê mesmo ante a minha ignorância no assunto. É disso que trata o tal capítulo do livro.
Peterson nos lembra que “o nome é a parte da fala pela qual somos reconhecidos como pessoa”. E o ato de recebê-lo é ainda mais significante. Envolve um contexto dentro do qual o nome foi pensado. Exatamente isso aconteceu comigo e com minha mulher ao nomearmos nossa filha. Ao longo de anos vínhamos pensando em um nome adequado. Por esse tempo, uma série de opções chegava, tomava conta e, com o passar dos dias – por razões diversas –, ia  embora.
Nomear é um caminho de esperança. Damos nome a uma criança pensando em alguém ou uma qualidade que esperamos venha ela a se assemelhar ou desenvolver. Pode ser um santo, um herói, um ancestral que admiramos. Alguns pais dão nomes a seus filhos, trivialmente, pensando em artistas de cinema e pessoas milionárias. (p. 31, grifo meu)
Comecei a pensar no nome que demos a nossa filha: Maria Flor. Por que Maria? E por que Flor? Antes das respostas segui com Peterson.
Quando pego uma criança em meu colo durante o batismo e pergunto aos pais: “Qual é o nome... deste bebê?”, não apenas estou perguntando: “Quem é este bebê que estou segurando?”, mas também, “Em quem vocês desejam que este bebê se transforme? Quais são suas esperanças para esta vida que se inicia?” (p. 32)
Lembrei da Maria, mãe de Jesus. Considero-a uma corajosa por enfrentar todo um preconceito e dar à luz um revolucionário, um salvador, alguém de quem se fala até hoje. Uma importante Maria.
Mas eu seria um mentiroso se não admitisse que a Bíblia, nesse caso, não falou mais alto que a maravilhosa música de  Milton Nascimento e Fernando Brant. Já me emocionava quando ouvia essa canção e nem era pai; agora tenho todas as desculpas do mundo para me desmanchar em lágrimas. A letra me soa como palavra de Deus, dá volume ao que desejo para meu amorzinho. Leiamos, juntos:
Maria, Maria é um dom, uma certa magia
Uma força que nos alerta
Uma mulher que merece viver e amar
Como outra qualquer do planeta
Maria, Maria é o som, é a cor, é o suor
É a dose mais forte e lenta
De uma gente que ri quando deve chorar
E não vive, apenas agüenta
Mas é preciso ter força
É preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca
Maria, Maria
Mistura a dor e a alegria
Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida

Eu continuo achando que viver é isso que a música expressa: uma mescla de sentimentos bons e ruins. Não somos cem por cento, embora desejemos mostrar uma infalibilidade. Há em nós um pouco de Deus e de Diabo. Carecemos da graça e da misericórdia divinas. E quando temos o privilégio de nomearmos nossos filhos, a ação não visa “à satisfação de um capricho; é uma expressão de esperança com relação ao futuro” (p. 34).
E a culpa é do Peterson. Veja o que ele registrou na página 34:
Dar um nome ao filho não deve visar à satisfação de um capricho; é uma expressão de esperança com relação ao futuro.
Eu espero que minha filha seja uma batalhadora, uma guerreira nesse mundo. Que ela seja uma cidadã de bem, de justiça, amante da paz e avessa aos modismos baratos. Que ela possa ter mais acesso nesse mercado cada vez mais competitivo; será importante, portanto, uma sólida formação. Desejo que ela tenha um gosto aguçado pela estética, por todo o tipo de arte, bem como o respeito ético pelo diferente. Que seu cristianismo não esteja acima do ser humano. E que o diálogo sobreponha qualquer razão.
O que acabei de dizer está implícito na canção do Milton, pelo menos essa é a minha leitura.
Quanto ao Flor, acho que é mais uma coisa de pai e mãe. Procuramos tratá-la como uma delicada flor. E como se cuida uma flor? Dá trabalho, mas o resultado compensa. A flor alegra, deixa o ambiente mais bonito, traz dinamismo à vida. Qual a graça de um lugar sem flor?
No fundo, eu termino concordando com o Eugene Peterson: cada criança “é uma criatura por meio da qual Deus pretende realizar uma obra gloriosa e grandiosa”.
Por favor, Deus, sinta-se à vontade.















[1] Corra com os cavalos: para quem busca uma vida de excelência, de Eugene H. Peterson, publicado no Brasil numa co-edição das editoras Ultimato/Textus, em 2003. Porém, a obra original é de 1983, mais uma prova de nosso atraso intelectual. A obra, atualmente, por razões comerciais, possui outro nome – Ânimo – e é editada pela Mundo Cristão.

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