domingo, 2 de maio de 2010

minha bagunceira preferida


Levi Nauter


Outro dia me perguntaram: como está a Maria Flor? Respondi que estavas bem, dando-me muito suor. Como assim?, foi a outra indagação. Respondi, sem medo de ser feliz, que tudo que tu fazias era para mim uma alegria.
Sabe, filha, há um lado bom em ser pai com uma certa idade. Esperamos 14 anos a tua chegada. Tanto eu quanto a mamãe já fizemos tantas coisas juntos que sentíamos falta de um ser para remodelar nosso tempo. E aí chegaste. Mudou mesmo o nosso tempo. Tudo que fazemos tem a Maria Flor pelo meio. Médico? E a Flor? Viajar? E a Flor? Passar uma tarde no brique da Redenção ou do Capão? E a Flor? Vamos almoçar fora, depois prá vó, mercado e só? E a Flor?
Em todos os nossos pensamentos tu estás.
Mas nosso tempo é para isso. Planejamos esse momento. Tudo o que queremos e aproveitar da tua rica companhia. Aproveitar, quando possível, vivendo junto contigo tais momentos. Por exemplo, dia desses eu estava falando com um amigo, ao telefone, e você – espertamente – badernou toda uma parte do nosso armário de livros. Eu achei aquilo lindo. Qual era a graça de tudo em ordem e nada poder ficar fora do lugar? Teu rosto expressava um sorriso de liberdade. Os livros eram como terra pra ti: pisavas, chutavas, batias. E eu, feliz, curtia tudo.
Tuas bagunças fazem-me perceber o quanto a gente quer tudo no lugar, certinho, sem nenhuma rebeldia. Vendo-te pensei que será assim que te tornarás uma leitora – mexendo nos livros, folheando-os, rabiscando-os, rasgando-os.
Siga em frente, meu amor. Mas vai na manha, não rasgue meus livros. Pode pisar neles, bater, chutar. Chegará um tempo em que – espero – serás uma leitora voraz, começando pelos que te agüentaram.
Ah, minha bagunceira preferida.
Deus te abençoe!!!

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