domingo, 23 de janeiro de 2011

[a escuridão]

Levi Nauter



Amor,

hoje aconteceu algo inédito nessa tua vida de um ano e quase dez meses: faltou energia elétrica. Se isso ocorreu noutra oportunidade ou não tenho lembrança ou a tua exigência ainda era pouca. Agora é diferente. 

(estou escrevendo no escuro, com vela acesa e com a lanterninha de leitura sendo nosso instrumento para deslocamentos dentro da nossa casa. Aproveitei até agora para ler, enquanto a mamãe está cantando musiquinhas[1] contigo)

Bem, agora é diferente porque estás acostumada com a luz, claro, mas mais ainda com os vídeos. A gente, há pouco, tentou de todas as formas explicar que não havia a possibilidade de tu assistires aos Backyardigans sem luz. Não teve jeito, choraste bastante, provavelmente nos achando uns pais ruins.
Num determinado momento, estávamos na garagem e lá estás tu a dizer: “us”, “us”, “us” – palavra linda que, no teu dicionário, significa ‘luz’. Não está fácil te convencer de que nosso mundo dito moderno tem dessas coisas. Ainda bem a música distrai-te bem.
Enquanto termino esse texto, tu estás envolta da TV gritando “fime”, “fime”.







NOTA
Fato ocorrido e descrito (no caderno) no dia 22-01-11, entre  19h30m e 22h. A digitação ocorreu em 24-01-11, sob o som do CD Wreck of the Day, de Anna Nalick.

Desenho de Jilian Phillips para o livro PEQUENOS AJUDANTES, Ciranda Cultural, 2010.


[1] Atirei o pau no gato é uma delas – essencialmente porque é a coisa mais linda do mundo te ouvir cantando essa música. Tu dizes assim: “/ati    a     totô, chi  mmmi-auuuuuuuu/”.




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