segunda-feira, 6 de junho de 2011

[diôvo]

Levi Nauter





Filha querida,
Nesse final de semana (14 e 15-05-11) eu fiquei mais velho. Fiz 37 anos. É, estou beirando os 40. Ainda lembro do meu tempo de criança, quando perguntava para o tio Jones ‘o que tu quer ser quando crescer?’. Recordar o que dizíamos um para o outro me dá alegria e uma certa saudade daquele tempo. Mas alegra-me saber que estamos bem, cada um de nós construiu um caminho no qual vem trilhando com tranqüilidade.
Ganhei um bom presente da mamãe nesse aniversário; também de meus colegas de trabalho. Um bom presente do vovô Josué. Gostei de todos. É sempre bom ser lembrado. Mas nada, absolutamente nada, supera você, filha, meu maior presente. E assim serás pra sempre. O melhor de todos os presentes.
E sabe o que me dá mais alegria? Ver-te brincar. Tu estás numa idade muito linda e com a qual sempre sonhei, imaginei. E isso porque é a fase de pequeninas perguntas, do sorriso fácil, das grandes descobertas (diferentes sons da fala e das palavras, dos gestos, de caminhadas mais longas, de aprender a pular e de pedir bis pelas brincadeiras que mais gosta). Nessa tua fase, filha, eu ando aproveitando tanto quanto tu. Por exemplo, eu amo música e tu pedes repetição de algumas; é ótimo porque eu – em geral – não canso, também quero ouvir algum detalhe a mais. E temos nos divertido1.
As brincadeiras de roda são outra atração. É uma das coisas mais singelas ouvir-te cantando “atiei pau no gatotô/mas o gatotô não moleu/dona chicaca mimilô cece...” Para essa cantiga é bem comum tu convidares a mim e a mamãe para te acompanhar. É nelas também que a gente ouve o “diovo” ou “ de novo”. Ai da gente se estiver cansado.
Se contar outras coisinhas que tu andas fazendo: sobe e desce da cama com a maior facilidade, mexe nas gavetas do criado-mudo e tira as roupas pelo prazer de dizer “isso é da mamãe”, “isso é do papai”. Embora ainda não consiga, queres pentear o próprio cabelo; passar batom, colocar anel e ainda escolhe a roupa. No mercado queres empurrar o carrinho de compras e, por mais lotado que esteja, não aceitas a nossa ajuda. Na casa da avó ou de alguns parentes tiras as coisas do lugar, rola no chão, descobre onde estão os sapatos femininos e queres experimentar cada um deles.
As bonecas é que sofrem com as tuas broncas e brabezas. Tu as xinga, canta pra elas, bate nelas, atira-as longe e por vezes dorme com elas. Se elas falassem diriam que não agüentam mais o “nana neném”, sem contar que enquanto cantas os teus embalos são de quase quebrar o pescoço delas. Mas que coisa mais linda!
Tanto eu quanto a mamãe damos o maior apoio às tuas brincadeiras. Consideramos extremamente importante esse processo de representação que todo o bebê tem, mas que nem todos os pais respeitam. Enquanto fores criança o meu desejo é que sejas criança na plenitude, ou seja, que brinque muiiiiiiito. Aristóteles, um filósofo sobre o qual tu ainda vais ouvir muita coisa, já dizia: ‘brinque para ser sério’. Brincar é parte do estar vivo. Talvez Jesus, outro cara de quem tu vais ouvir muito, quisesse dizer o mesmo – que para se ir bem na vida é preciso muitas vezes ser como criança.
E para a minha felicidade, a revista Pátio, especializada em educação, traz na edição infantil uma série de artigos que vêm corroborar com essa nossa ideia. A importância da brincadeira durante a infância. Especialistas, com seus trabalhos de pesquisa, vieram contribuir para aquilo que temos observado e vivido na prática.
É gratificante percebermo-nos no caminho certo.
Te amamos. Continue brincando bastante.



1 Um exemplo disso é a música Lá em casa, que o Palavra Cantada interpreta, uma canção que exige memória e que me faz te olhar e dar risadas das tuas imitações do final da poesia.


A foto foi tirada por esse teu pai que é louco por ti e ama te ver brincando de gente grande.

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