quinta-feira, 24 de março de 2011

[dois anos]

Levi Nauter



Inventei um jeito
De correr veloz,
De correr voraz,
Tão rápido, tão rápido,
Que às vezes me ultrapasso
E me deixo para trás.

Sérgio Capparelli



Filha amada,

Hoje é uma data muito especial para mim (e tenho certeza que para a mamãe também): estás completando dois aninhos. Sabe, amor, acho que sempre vou dizer que o dia 24 de março é especial. Afinal, foi nele que recebi meu maior presente, meu maior feito – ter você. Eu não tenho dúvidas ao dizer que tu és para mim a pessoa mais importante no mundo. Esse laço sagrado que tenho contigo jamais se desfará. E mais, foi algo com que sempre sonhei. E também isso você vai ouvir muito, além dos “linda” e “eu te amo”.
Ontem, na véspera do teu aniver, fiquei pensando sobre esse tempo que estamos juntos, sobre cada momento que vivi em teu desenvolvimento, sobre a minha paternidade.
É surpreendente o quanto tu estás à frente na inteligência, nas pequenas travessuras de menina boa[1]. No aniversário passado pouco falavas e nem sequer caminhavas. Agora, conversas bastante e anda por tudo. Outro dia deixamos a porta dos fundos aberta e, quando nos damos conta, tu estavas lá no gramado indo em direção às flores. Quando a porta da frente está aberta, tu exortas-nos para que molhemos a “fossinha” (na tua linguagem significa molhar as flores); conversas com as crianças da vizinha e ainda nos convida para “passá” (passear). Contigo, tenho passados momentos inesquecíveis.
Outra coisa importante no teu desenvolvimento foi que ele me fez revisitar a minha infância. Tem sido maravilhoso notar coisas contigo que sozinho passariam  despercebidas. Quando estamos passeando, de carro ou a pé, por exemplo, tu olhas para o céu e de repente dizes “Alá pataín”; então relembro que onde moramos há bastante passarinho. Noto com alegria que tu mexes nalgum tijolo, na areia, no gramado, nas árvores, nas pedrinhas; sobes na cadeira no sofá, no armário, tudo a fim de descobrir novos olhares, novas texturas. E até pedra e areia já tentaste comer, provavelmente buscando novos sabores. Enquanto esses merecem nossa atenção como pais, outros são lindos de ouvir a petição: ‘eitinho’ para o leite fermentado e ‘guti’ para o iogurte que adoras; ‘polate’ para o chocolate e para o Nescau que não pode faltar. Não daria pra esquecer a tua careta pedindo ‘efí’ na hora do refri. Teu jeitinho é tão lindinho que às vezes a nossa função de pais se complica, ficamos com o coração partido por ter de dizer alguns ‘nãos’. Pensar no teu futuro, porém, renova nossas forças.
Por fim pensei na minha paternidade. Como sempre foi um desejo, agora fico me perguntando como venho desempenhando o ser pai. Provavelmente não sou nem serei o melhor pai do mundo, porque essa tarefa exige funções que, adiante, tu não vais gostar. No entanto, registro que tenho me esforçado para dar o melhor de mim como pai e como um parceiro na caminhada da vida. Será assim que, por um lado, quero ser uma espécie de escada para que tu alce teus vôos e, por outro, que tenhas a segurança, a tranqüilidade e a proteção paterna do lar. Quero que aqui em casa tu sempre, sempre, encontres um lugar seguro, um lugar para seres quem és sem medo da não aceitação. Ser pai, para mim, sempre significou um homem com mais vivência, com mais equilíbrio, mas também com mais leveza, mais poesia, mais música. E isso eu acho que vens captando, a música parece estar dentro de ti (é lindo te ver dançando, cantando o “sapo cululu”).
Ser pai é cuidar de ti – trocar as fraldas, dar banho, dar mamá, dar água. É dar carinho pegando-te no colo, enchendo-te de beijinhos. É te olhar no meio da madrugada para saber se estás bem; ou juntar-te do chão como aconteceu outro dia. É ouvir ou assistir a alguns filmes mais de cinco vezes ao dia. É colocar pomadinha acompanhada de beijinhos no dodói. É ver-te destruindo os batons da mamãe ou tentando pentear o “bêlo”. É rolar no tapete junto contigo com brincadeiras maravilhosas. É ver três mãos querendo pegar mais pipoca.
Mas ser pai da Maria Flor é o maior privilégio.

Eu te amo.







[1] Em contraponto a um livro lançado pelo escritor Vargas Llosa chamado Travessuras de menina má.

A poesia 'jeito de correr' foi extraída da obra 111 poemas para crianças, de Sérgio Capparelli, publicação da L&PM, em 2006, pág. 84.

Um comentário:

  1. Flor,

    Te desejamos um sem fim de bênçãos, de alegrias, de momentos mágicos. Que cresças cheia de vida, de saúde, de novas descobertas. Não temos palavras para descrever o quanto tu colores a vida de todos que te conhecem. Adoramos esta contigo.

    Mil beijos,

    Tio Jones e tia Ane

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