terça-feira, 13 de novembro de 2012

[agora é diferente]



Levi Nauter



Meu amorzinho:



É bem interessante que na medida do teu crescimento uma série de outras coisas vão mudando. Claro, tudo é natural, eu sei. Mas ocorre que pouso se dá valor a isso, menos ainda se registra essa mudança. Então esse texto é só para refletir um pouco sobre isso e, dessa forma, comentar sobre o teu crescimento e no que isso vem implicando.
Antigamente (não achei uma palavra melhor) era bem tranquilo irmos ao supermercado. Naquela época bastava colocar-te na cadeirinha do carrinho que tu dormias o sono dos bebês inocentes. Nesse mesmo período, não interessava aonde a gente ia, todas as pessoas nos olhavam (a mim, à mamãe e a ti) e cochichavam: “que bebê mais lindo!”. A gente ficava todo orgulhoso (no bom sentido da palavra, porque orgulho nem sempre é ruim como dizem). Um outro período chegou. Com ele, bastava a gente te colocar dentro do carrinho do super e tomar um certo cuidado: não passar perto das embalagens que chamavam a tua atenção (tarefa difícil se considerarmos que o marketing é sempre pesado em se tratando de consumo). Porém, num determinado dia, tu caíste do carrinho. Foi um susto horrível, as pessoas (que nessas horas parecem milhões) ficavam olhando e provavelmente achando que ‘éramos os piores pais do mundo’. Mas sei que não somos.
Agora tu não ficas dentro de nenhum carrinho. Nos teus três anos, tem sido uma árdua tarefa irmos ao mercado contigo. Vamos porque entendemos que temos de ir e, mais que isso, temos que te ensinar a como se comportar nessa espécie de passeio. Em casa, antes de sairmos, a gente conversa contigo. A mamãe, muito mais paciente que eu, explica TIM TIM por TIM TIM o que pode e o que não pode ser feito quando a gente sai pra fazer compras de ‘comidinha’. Bem pouco adianta da nossa conversa. Ocorre que justamente agora os teus gostos estão vindo à tona. Assim é que a gente quer comprar leite e tu queres olhar bicicletas (embora já tenha uma). Queremos dar uma olhada em vinhos, enquanto tu queres ver bonecas (apesar de teres várias em casa). Mas em se tratando de mercado tem uma coisa boa, a mamãe quer olhar coisas para a casa (modelos novos ou diferentes de prato, xícaras, talheres, copos, ou outros badulaques) e eu e tu queremos ver livros. Nessa hora, e só nessa hora, eu e tu nos fartamos. Vamos pra lá, eu pego um livro e tu pega três. Desses três, pelo menos um tem ou lápis de cor, ou canetinha, ou bichinho, ou buzinhinha... Os livros infantis são feitos para que as crianças tomem o gosto pela literatura. E eu espero que esse seja nosso momento. E desejo que tu sejas uma grande leitora. Muitíssimas vezes mais que eu.
Nesse dia das crianças a gente resolveu aproveitar o feriadão e subir a Serra. Outra vez foi diferente. Num determinado ponto do caminho resolvemos esticar as pernas e tirar uma foto do lugar. Lá estava aquele serzinho saindo da cadeirinha e querendo ver a paisagem tanto quanto a mãe e o pai. Aí me dei conta de que eu tenho um ‘princípio de mocinha’ se criando com a gente. E como nos sentimos felizes com isso, filha. A gente te ama muito.
Semana passada eu e tu, filha, fomos comprar pão. Quando voltávamos pra casa tu chamaste a minha atenção: - olha pai, que legal aquilu lá! ‘o que, filha’ – perguntei.
“Aquele lugar lá, ó, bem longe”. Realmente a paisagem era linda, uma colina que parecia se perder nas nuvens lá pelos lados de Montenegro. Fiquei muito feliz em saber que o que consideramos bom gosto estamos, pelo jeito, conseguindo te transmitir.
Continue assim.






NOTA
O passeio de que falei no texto. Eu não resisti.
Texto escrito em outubro/2012 e ‘polido’ em novembro.

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